Velejar na vida, ainda é uma aventura,
Velejo lá, e não acho lugar para descer minha ancora,
É que meu navio, não é negreiro,
Não é mais negreiro, não…
“Mas nunca vi, negro que não veio do negreiro”- eu ouvi…
Eu quis provar, e gritei bem alto, para o Brasil inteiro ouvir!
Minha ancestralidade veio de lá, de África, mas eu nasci aqui…
Cresci aqui, me criei aqui, outro lugar não conheci,
Como vou voltar, para onde não nasci?
Parece liberdade, o que vi na TV,
E na dúvida, as vezes recuo, mas já consigo enxergar,
Não desataram as minhas mãos e nem os nós da escravização…
Lutei em um mar, nada azul,
A minha dor não acabou no papel…
Me ensinaram a seguir um horizonte,
Navegamos muitos, muitos mais que um,
Lancei meu barco de novo nas águas,
Balanço, balancei, firmei… não enjoei!
Desatei as correntes de novo,
Meu dorso, botei para navegar…
Não vou seguir o horizonte, vou buscar meu norte,
Desviando da noite, do estopim, da morte,
Encontrei o meu espaço para aquilombar,
Entre minhas irmãs e irmãos, entre conversas guardiãs e sábias, esse é o meu lugar.