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Por Claudia Regina da SilvaColetiva Kilombo de Rainhas

Somos a maioria, somos a minoria, somos pobres, pretas, negras, brancas, periféricas, migrantes, nordestinas, baianinhas, quilombolas e indígenas. Somos aquelas, que depois de 8 horas de trabalho, depois de horas de transporte público dá um passo a mais para a profunda realidade…

A colega que ainda passa roupa e nina o bebê, mas mesmo assim, arruma tempo para o lazer, a novela, a música, a dança, o livro… isso nos faz sonhar e faz esquecer quem somos, por alguns instantes. E quem tira a toalha molhada de cima da cama? E leva os copos para cozinha? E quem diz: “a janta tá pronta”?

Somos as mães que trabalham para as filhas estudarem, somos as filhas que se formam na universidade, para as mães voltarem para a escola. Somos operárias, empreendedoras, manicures, jornalistas, costureiras, motoristas, advogadas.

Somos esposas mães, irmãs, primas, tias, comadres e vizinhas somos a menina que não pôde brincar de bolinha de gude e nem de carrinho de rolimã, somos a irmã que cuida dos irmãos mais novos, até a mãe voltar do serviço, e que lava a louça do almoço, enquanto o irmão vai jogar bola…

Somos quem não pode andar sem acompanhante na rua à noite, somos proibidas de frequentar os bares e botecos e também somos aquelas que não pode ter amizade com alguém do sexo oposto.

Somos aquelas que são criticadas por não ter marido, somos também apontadas na rua ao buscar camisinha no posto de saúde, somos culpabilizadas por filhos indesejados pelo outro, “quem garante que o filho é meu? ”…

Somos mães solteiras que registram os nomes dos filhos de pais como desconhecidos… somos as mãezinhas que gritam nos corredores da maternidade, e ainda escuta: Na hora de fazer, você não gritou”…

Somos avós que criam os frutos da gravidez na adolescência, somos aquelas que amam os filhos da patroa, também somos quem dá conta do recado, quando nossos homens faltam; aquelas que seguram as pontas quando são presos; somos as que choram quando nossos filhos são mortos; somos mães de maio, de junho e setembro, somos quem vai ao posto atrás de remédio, e consegue agendar uma consulta para daqui 5 meses; somos quem cria os abaixo-assinados para pedir créditos; somos quem trabalha em mutirão, carregando block ;fazendo marmita.

Somos quem denuncia a vizinha; que apanha do marido; somos amor, perdão, paciência, doçura, fortaleza e somos a esperança!

Desfazendo nós, nós somos mulheres da periferia

Claudia Regina da Silva – Coletiva Kilombo de Rainhas- 24/02/2025

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