Mulher preta de pele clara, 44 anos, residente no RS, natural de Porto Alegre, mora no litoral norte do RS.
O que sinto? Como lido? Como me percebo? Como sinto como os outros me percebem?
Me sinto hipervigilante quando saio de casa, principalmente se estou acompanhada de minha família, por ser casada com um homem preto de pele escura e ter um filho
de 4 anos preto de pele clara também, mas com o cabelo longo e de dreads, onde preciso estar sempre atenta aos “outros” que quando se aproximam o confundem
com menina, chamando pelo pronome feminino. Me sinto “perseguida” o tempo todo, com necessidade de me posicionar corporalmente, me mantendo ereta e com
o pescoço erguido. Evito ser simpática, dar sorrisos para estranhos, para não ser confundida com a funcionária do local.
Fico exausta toda vez que passo poucas horas na rua.
Faço questão de estar sempre trazendo junto a mim, na vestimenta/indumentária, referência de minha negritude, como turbantes, roupas em tecido afro e ilekes de
povo de matriz africana. Com isso me sinto apoderada de quem sou, protegida pelo meu bonde ancestral e mostro “ que é melhor não mexer comigo, pois não ando só”. Mas, infelizmente, nem sempre funciona. Mesmo tendo poder aquisitivo, ainda mais acompanhada de minha família, a invisibilidade, nos ambientes que frequentamos, às vezes aparece.
No sul, onde a maior parte da população (82%) é branca, e dos 18% negros, a grande maioria é parda (como eu), que infelizmente ainda ocupam espaços de trabalho subalternizados o que se torna comum eu ser confundida como funcionária dos locais.
É cansativo.
Em espaços embranquecidos, onde me apresento quanto profissional, ouvir frases como “você não é tão negra assim”, “com este turbante, parece estar fantasiada de negra”, é uma constância e pra mim, extremamente violento.
Seguimos…