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O Machismo e as Dinâmicas de Poder: Um Olhar Interseccional sobre Mulheres Negras Intelectuais

Introdução

O machismo é frequentemente percebido como uma manifestação explícita de comportamentos preconceituosos ou sexistas, mas suas expressões mais sutis também desempenham um papel crucial na perpetuação de dinâmicas de exclusão. Essas expressões incluem a centralização de poder e decisões em ambientes predominantemente masculinos, onde a presença feminina é reduzida a uma função simbólica. Mulheres negras, em particular, enfrentam a interseção entre machismo e racismo, uma forma de opressão que as marginaliza em múltiplos níveis (COLLINS, 2019). Este artigo busca explorar como essas dinâmicas impactam mulheres negras intelectuais, analisando a violência psicológica e emocional resultante do silenciamento imposto.

1. Machismo Estrutural e a Exclusão Invisível

O machismo estrutural, como discutido por Bourdieu (2002), se manifesta na organização social e cultural que privilegia os homens em espaços de poder e decisão. Essa exclusão é ainda mais acentuada para mulheres negras, cuja presença em ambientes acadêmicos e profissionais é constantemente deslegitimada. A centralização masculina nessas esferas não é apenas uma questão de ausência física de mulheres, mas de práticas que silenciam suas vozes e desvalorizam suas contribuições. Bell Hooks (2015) argumenta que o machismo estrutural opera como um sistema que reforça a hierarquia de gênero e raça, enquanto desumaniza mulheres negras, negando-lhes a plena participação social e intelectual. Essa desumanização é frequentemente mascarada como meritocracia, ocultando as barreiras estruturais que limitam o acesso e a ascensão dessas mulheres.

2. A Interseccionalidade e a Dupla Violência contra Mulheres Negras

A interseccionalidade, termo cunhado por Kimberlé Crenshaw (1 991), é uma ferramenta essencial para compreender como o machismo e o racismo se entrelaçam na vida de mulheres negras. Essas mulheres enfrentam o que Patricia Hill Collins (2019) chama de “dupla violência”: a exclusão de espaços de decisão e a violência simbólica que lhes impõe o silenciamento.

Em ambientes dominados por homens, sejam brancos ou negros, mulheres negras muitas vezes se veem pressionadas a adotar comportamentos de autocensura para evitar julgamentos e estigmas associados à sua assertividade. Essa dinâmica não é apenas prejudicial à sua saúde mental, mas também perpetua a marginalização de suas ideias e perspectivas.

3. Violência Psicológica e Emocional no Silenciamento

O silenciamento imposto a mulheres negras em espaços intelectuais é uma forma de violência psicológica e emocional que mina sua autoestima e bem-estar. Segundo Neusa Santos Souza (1 983), em Tornar-se Negro, o racismo internalizado e o machismo estrutural criam um ciclo de opressão que reduz as possibilidades de expressão plena dessas mulheres.

Além disso, a expectativa de que essas mulheres se adaptem a padrões de comportamento definidos por homens reflete o que Hooks (2015) descreve como “domesticação da subjetividade”, onde as experiências e necessidades das mulheres negras são negligenciadas em favor da manutenção das hierarquias de poder.

4. Exclusão Intelectual e Apropriação de Contribuições

A exclusão intelectual de mulheres negras é um reflexo do machismo estrutural que permeia a academia e outras esferas do conhecimento. Estudos de Patricia Hill
Collins (2019) apontam como as contribuições de mulheres negras frequentemente são ignoradas ou apropriadas por colegas masculinos, reforçando a invisibilidade de suas produções.

Essa exclusão não é apenas um reflexo de preconceitos individuais, mas uma prática sistemática que nega às mulheres negras o reconhecimento de seu papel como agentes de transformação social e intelectual. A ausência de suas vozes nos currículos acadêmicos e nas políticas institucionais perpetua essa marginalização.

5. Resistência Coletiva e Valorização da Intelectualidade Negra Feminina

Apesar das barreiras estruturais, mulheres negras têm criado redes de apoio e resistência que desafiam as dinâmicas de exclusão. A construção de espaços seguros e a amplificação de suas vozes são estratégias fundamentais para enfrentar o machismo e o racismo. A trajetória de mulheres como Angela Davis, Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro exemplifica como a resistência coletiva pode transformar as dinâmicas de poder, promovendo a valorização da intelectualidade negra feminina e questionando as bases das opressões estruturais.

6. O Machismo e a Pressão Psicológica sobre Mulheres Negras: Violência Internalizada e Impactos na Saúde Mental

O machismo estrutural, associado ao racismo, exerce uma violência constante e insidiosa sobre mulheres negras, que frequentemente se manifesta como pressão psicológica intensa. Essa violência, muitas vezes invisível, é internalizada pelas mulheres negras, resultando em adoecimento emocional e psicológico. Conforme aponta Neusa Santos Souza (1983) em Tornar-se Negro, a internalização das opressões estruturais leva à construção de identidades marcadas pela negação de si e pela necessidade de sobrevivência em um sistema que perpetua sua desumanização. A internalização dessa violência ocorre de maneira gradual e muitas vezes imperceptível, mas suas consequências são profundas. Mulheres negras em ambientes dominados por homens, sejam esses espaços acadêmicos, corporativos ou sociais, frequentemente enfrentam microagressões, silenciamentos e a desvalorização de suas vozes. Essas experiências acumuladas criam um fardo emocional que, quando ignorado ou não tratado, pode levar a transtornos como ansiedade, depressão e síndrome do impostor (COLLINS, 2019).

Bell hooks (2015) enfatiza que as mulheres negras, além de enfrentarem as expectativas de conformidade impostas pelo machismo, são obrigadas a se desdobrar para superar os estereótipos raciais que desumanizam sua existência. Essa dupla carga gera uma pressão psicológica que não é apenas individual, mas coletiva, refletindo a estrutura sistêmica que busca minar sua autoestima e limitar suas possibilidades de realização plena.

A violência internalizada também se manifesta no autocensuramento. Muitas mulheres negras adotam comportamentos de autoproteção, evitando expressar suas opiniões ou reivindicar espaços por medo de retaliações, julgamento ou ridicularização. Essa estratégia de sobrevivência, embora compreensível, reforça a invisibilidade de suas experiências e contribui para o ciclo de opressão.

Além disso, a pressão psicológica pode ser amplificada pela ausência de redes de apoio ou de políticas públicas que levem em consideração as especificidades da saúde mental das mulheres negras. Segundo Carneiro (2005), a negligência histórica da saúde mental da população negra no Brasil é um reflexo da desumanização estrutural que perpetua a exclusão dessas mulheres, tanto no acesso a cuidados psicológicos quanto na validação de suas vivências.

O adoecimento psicológico das mulheres negras não é apenas uma consequência da violência machista, mas também um indicador das falhas de um sistema que ignora as interseções entre raça, gênero e classe. Para Neusa Santos Souza (1 983), o enfrentamento dessa realidade exige um processo de ressignificação, onde as mulheres negras possam reconhecer e validar suas experiências como legítimas e resistir à internalização das opressões. Assim, o impacto da pressão psicológica gerada pelo machismo e pelo racismo vai além do individual, afetando comunidades inteiras. É necessário que o debate sobre a saúde mental das mulheres negras inclua a análise dessas interseções e promova estratégias coletivas de resistência e autocuidado. A construção de espaços seguros e a valorização das redes de apoio são fundamentais para romper o ciclo de violência e possibilitar a reconstrução das subjetividades dessas mulheres.

7. A Domesticação da Subjetividade e a Pressão para Conformidade nas Mulheres Negras

A pressão psicológica enfrentada pelas mulheres negras não se limita à violência explícita do machismo e do racismo, mas também se manifesta na expectativa de que elas se adaptem a padrões de comportamento definidos e legitimados por homens. Essa dinâmica reflete o conceito de “domesticação da subjetividade”, abordado por Bell Hooks (2015), em que as experiências e necessidades dessas mulheres são sistematicamente negligenciadas para manter as hierarquias de poder estabelecidas.

No contexto da domesticação da subjetividade, mulheres negras são frequentemente forçadas a minimizar suas identidades, emoções e necessidades para se encaixar em estruturas sociais e profissionais que não foram projetadas para incluí-las. Essa conformidade não é apenas uma adaptação superficial, mas uma forma de sobrevivência em ambientes que demandam que elas se tornem “menos ameaçadoras” ou “mais aceitáveis” para aqueles que detêm o poder, geralmente homens brancos e negros.

Como Collins (2019) argumenta, essas imposições estruturais têm raízes profundas no legado colonial e escravocrata, que desumanizou os corpos negros e os reduziu a ferramentas para a manutenção da ordem social. A perpetuação dessas dinâmicas em espaços contemporâneos reforça a invisibilidade das mulheres negras e restringe sua capacidade de se expressar plenamente.

A pressão para atender a essas expectativas pode ser especialmente devastadora no ambiente profissional. Mulheres negras frequentemente relatam a necessidade de adotar uma “persona neutra”, na tentativa de evitar a estigmatização como “agressivas” ou “emocionais”. Essa autocensura prolongada é uma forma de violência emocional que contribui para o adoecimento psicológico e perpetua ciclos de exclusão (CARNEIRO, 2005). Por outro lado, essa “domesticação” também se manifesta nas interações sociais e familiares, onde a mulher negra é frequentemente colocada em posições de suporte emocional e cuidado, sem que suas próprias necessidades sejam reconhecidas ou valorizadas. Essa dinâmica reflete o que Neusa Santos Souza (1983) identificou como a negação da subjetividade das mulheres negras, que são socialmente condicionadas a priorizar os outros enquanto negligenciam a si mesmas.

Além disso, essas imposições não reconhecem as especificidades das vivências das mulheres negras, que enfrentam a interseção do racismo com o machismo de maneiras únicas e frequentemente devastadoras. A expectativa de conformidade com padrões dominados por homens representa uma forma de desumanização que perpetua a invisibilidade das lutas e conquistas dessas mulheres.

O combate à domesticação da subjetividade exige mudanças estruturais e simbólicas. Em primeiro lugar, é necessário criar espaços que valorizem a pluralidade das experiências femininas negras e que reconheçam o impacto das hierarquias de poder nas suas vidas. Segundo Carneiro (2005), é fundamental desenvolver práticas institucionais que promovam a equidade racial e de gênero, desconstruindo os padrões excludentes que ainda prevalecem nos espaços públicos e privados.
Ao desafiar essas estruturas, as mulheres negras podem não apenas resistir às imposições de conformidade, mas também reivindicar suas subjetividades de maneira plena e autêntica. Como Hooks (2015) destaca, a rejeição da domesticação é um passo essencial para a libertação das mulheres negras e para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

8. A Domesticação da Subjetividade nas Relações Afrocentradas

A “domesticação da subjetividade”, como descrita por Bell Hooks (201 5), não é um fenômeno restrito às dinâmicas de poder entre homens brancos e mulheres negras; ela também se manifesta de maneira profunda e particular nas relações afrocentradas. Essas relações, marcadas pela interseção de vivências raciais compartilhadas, trazem consigo a expectativa de solidariedade e reciprocidade. Contudo, frequentemente as mulheres negras são colocadas em posições de subordinação emocional e psicológica, refletindo a perpetuação de estruturas de poder patriarcais que transcendem a racialidade.

Nas relações afrocentradas, mulheres negras enfrentam uma pressão dupla: de um lado, são convocadas a serem parceiras e apoiadoras incondicionais dos homens negros em um contexto de resistência ao racismo estrutural. De outro, suas próprias necessidades e subjetividades muitas vezes são negligenciadas em nome de um projeto coletivo de sobrevivência racial e cultural. Como Collins (2019) observa, a luta pela libertação racial frequentemente se baseia em papéis de gênero tradicionais que desvalorizam a autonomia das mulheres negras, tratando-as como instrumentos de sustentação emocional e material. Essa dinâmica reflete um paradoxo doloroso: enquanto as relações afrocentradas poderiam ser espaços de cura e resistência mútua ao racismo, elas frequentemente reproduzem a domesticação da subjetividade, relegando as mulheres negras a papéis que silenciam suas vozes. Essa realidade é ainda mais evidente em contextos onde os homens negros, internalizando os valores patriarcais da sociedade, assumem posturas dominadoras que invalidam as experiências de suas parceiras.

Neusa Santos Souza (1983), em Tornar-se Negro, discute como as mulheres negras, mesmo em espaços racializados, são confrontadas com a expectativa de desempenhar papéis de suporte, ao invés de protagonistas. Essa domesticação se manifesta em comportamentos que incluem a invalidação de suas emoções, a exclusão de decisões importantes e a invisibilidade de suas contribuições. Em suma, as relações afrocentradas podem se tornar, paradoxalmente, lugares de reafirmação do machismo que elas enfrentam fora desses espaços.

Além disso, a romantização da força das mulheres negras nessas relações reforça a noção de que elas devem suportar a negligência emocional e a falta de reciprocidade como parte de sua missão coletiva. A “mãe preta”, arquétipo histórico que simboliza cuidado e sacrifício, continua sendo um modelo implícito em muitas dessas relações, onde as mulheres são esperadas a priorizar os outros, muitas vezes às custas de sua saúde mental e emocional (CARNEIRO, 2005). É importante destacar que a crítica a essa dinâmica não invalida a importância das relações afrocentradas como espaços de resistência ao racismo estrutural. No entanto, elas precisam ser transformadas em lugares de verdadeira reciprocidade, onde homens e mulheres negras possam partilhar de maneira igualitária suas experiências e responsabilidades. Para isso, é necessário que essas relações sejam pautadas por uma conscientização crítica sobre as heranças patriarcais que continuam a moldá-las.

Como Hooks (2015) ressalta, a transformação das relações de gênero dentro das comunidades negras requer um compromisso com a construção de espaços de amor genuíno, onde ambas as partes possam existir plenamente sem a necessidade de se submeter às dinâmicas de poder. Isso inclui a desconstrução das expectativas de que as mulheres negras devam ser as principais responsáveis pelo cuidado emocional, enquanto os homens permanecem protegidos de enfrentar suas próprias vulnerabilidades.

Por fim, a “domesticação da subjetividade” nas relações afrocentradas deve ser enfrentada como uma barreira à construção de comunidades verdadeiramente igualitárias e emancipadoras. A emancipação das mulheres negras nessas relações não apenas fortalece a luta coletiva contra o racismo, mas também desafia as estruturas de poder que continuam a limitar a liberdade e o bem-estar emocional de todos os envolvidos.

9. A Negação da Subjetividade e o Custo

Psicológico para as Mulheres Negras A negação da subjetividade das mulheres negras, conforme descrita por Neusa Santos Souza (1983) em Tornar-se Negro, é um fenômeno profundamente enraizado nas estruturas sociais que desumanizam esses corpos, reduzindo-os a instrumentos de cuidado e suporte para os outros. Essa dinâmica é perpetuada por meio de condicionamentos sociais que as posicionam como “fortalezas emocionais” e “mães universais”, que devem sustentar a comunidade enquanto negligenciam suas próprias necessidades emocionais e psicológicas.

Esse processo começa cedo, com meninas negras sendo educadas a assumir responsabilidades emocionais e materiais desproporcionais à sua idade. Em muitos contextos, essas crianças são ensinadas a priorizar o bem-estar dos outros, frequentemente à custa de suas próprias vontades e desejos. Essa socialização cria uma mentalidade de auto-sacrifício, que é internalizada na vida adulta e reproduzida em diversos aspectos de suas vidas, incluindo relações pessoais, ambientes de trabalho e até mesmo movimentos políticos.

A Construção da Identidade como “Mulher Forte”

A identidade da “mulher negra forte”, embora muitas vezes celebrada como um símbolo de resistência e resiliência, também carrega um custo psicológico significativo. Essa construção, como argumenta Carneiro (2005), reforça a ideia de que as mulheres negras devem suportar o peso do mundo sem demonstrar fraqueza ou vulnerabilidade. Essa expectativa não apenas perpetua a invisibilidade de suas dores, mas também as desumaniza, negando-lhes o direito à fragilidade e ao cuidado.

Essa dinâmica é amplificada em espaços dominados por homens, onde a voz e as necessidades das mulheres negras frequentemente são silenciadas. Como destaca Collins (2019), a masculinidade hegemônica, combinada com o racismo estrutural, cria ambientes em que as mulheres negras são vistas como secundárias, mesmo em contextos que deveriam promover sua emancipação. Essa negação de subjetividade faz com que muitas dessas mulheres internalizem sentimentos de inadequação, levando ao adoecimento emocional e psicológico.

O Adoecimento Psicológico como Resultado da Negação da Subjetividade

O custo de ignorar constantemente as próprias necessidades se manifesta de diversas formas, incluindo ansiedade, depressão e o que Neusa Santos Souza (1983) chama de “angústia do pertencimento”. Essa angústia surge da luta interna para se encaixar em um mundo que insiste em desumanizá-las, ao mesmo tempo em que são sobrecarregadas por expectativas irreais. Essa condição é agravada pela falta de espaços seguros onde as mulheres negras possam expressar suas vulnerabilidades sem medo de julgamento ou retaliação. A psicologia racializada nos oferece uma lente para compreender como essa negação da subjetividade afeta a saúde mental das mulheres negras. Estudos recentes indicam que a internalização de estereótipos de força e auto-sacrifício está associada a altos níveis de estresse crônico, conhecido como weathering (GERONIMUS, 1992). Esse conceito descreve como o estresse constante relacionado ao racismo e à opressão de gênero acelera o envelhecimento biológico e aumenta a suscetibilidade a doenças físicas e mentais.

Resistência e Reafirmação da Subjetividade

Apesar das adversidades, as mulheres negras têm encontrado formas de resistir a essa negação de subjetividade, reafirmando suas identidades e necessidades. Movimentos feministas negros, como os liderados por Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e bell hooks, têm desempenhado um papel crucial na criação de espaços onde essas mulheres podem se reconhecer como sujeitos plenos, com direito ao cuidado, ao amor e à vulnerabilidade.

A escrita de Neusa Santos Souza (1983) também serve como um guia para essa resistência. Sua obra não apenas denuncia as estruturas que desumanizam as mulheres negras, mas também oferece caminhos para que elas ressignifiquem suas identidades, priorizando o autocuidado e o amor-próprio. Como ela afirma, “tornar-se negro” é um processo de libertação que envolve a rejeição dos papéis impostos e a construção de uma identidade baseada em suas próprias experiências e valores.

A negação da subjetividade das mulheres negras é uma forma insidiosa de violência que permeia todos os aspectos de suas vidas. Essa dinâmica, embora amplamente invisível, tem implicações profundas para sua saúde mental e bem-estar emocional. Reconhecer e combater essa negação é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde as mulheres negras possam existir plenamente como sujeitos de suas histórias.

10. Dificuldade do Homem Negro em Reconhecer Reproduções de Esfera Machistas Contra a Mulher Negra

O debate sobre as reproduções de atitudes machistas por parte dos homens negros em relação às mulheres negras, especialmente em contextos sociais ou em relações afrocentradas, é uma questão que demanda uma análise crítica e interseccional. Embora o homem negro também seja vítima de sistemas de opressão racial, isso não o isenta da possibilidade de reproduzir dinâmicas de poder que subordinam as mulheres negras. Essa dificuldade em reconhecer comportamentos machistas está profundamente enraizada em fatores históricos, culturais e estruturais que perpetuam a dominação masculina. Segundo hooks (201 5), a opressão patriarcal muitas vezes é internalizada de maneira inconsciente, de modo que os homens negros, ao tentarem afirmar sua masculinidade em uma sociedade que historicamente os desumaniza, acabam reproduzindo padrões de controle e silenciamento, muitas vezes herdados do patriarcado branco. Nesse contexto, a relação com as mulheres negras torna-se um terreno de conflito, em que essas mulheres sofrem tanto com o racismo quanto com o machismo, em um fenômeno que Sueli Carneiro (2005) descreve como “dupla desumanização”. Em contextos de relações afrocentradas, a dificuldade de reconhecer essas dinâmicas pode ser ainda mais complexa. Embora essas relações busquem fortalecer os laços culturais e identitários, elas nem sempre estão imunes às influências do patriarcado. Muitas vezes, a mulher negra é posicionada como a “base” da resistência, sobrecarregada com a responsabilidade de sustentar emocionalmente o parceiro e a família, enquanto suas próprias necessidades são ignoradas. Essa dinâmica reflete o que Neusa Santos Souza (1983) chamou de ‘negação da subjetividade”, onde as mulheres negras são condicionadas a priorizar o bem-estar do outro em


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Coluna da Tamiris

Olá, meu nome é Tamiris Eduarda, sou estudante de Psicologia, educadora social e terapeuta ABA infantil. Dedico-me a pesquisar e escrever sobre a saúde mental da população negra, periférica, indígena e LGBTQIAPN+, com o objetivo de ampliar debates sobre diversidade, inclusão e a luta por equidade no campo psicológico.

Minha trajetória é marcada por um interesse profundo em compreender como fatores sociais, históricos e culturais influenciam o bem-estar psíquico das comunidades marginalizadas. Esse interesse nasceu da percepção de que, muitas vezes, a psicologia tradicional negligencia essas experiências e que é urgente promover práticas mais inclusivas e interseccionais.

Meus principais temas de estudo incluem psicologia racializada, educação inclusiva e a importância de compreender a subjetividade de crianças e adolescentes. Acredito que entender as experiências individuais e coletivas, respeitando o contexto social de cada pessoa, é essencial para uma prática psicológica efetiva e transformadora.

Minha visão profissional é guiada pelo compromisso com uma abordagem humanizada e interseccional, que valorize as especificidades de cada indivíduo e enfrente as desigualdades estruturais. Busco construir um espaço de acolhimento e escuta, onde as histórias e as vivências sejam respeitadas, e onde cada pessoa possa encontrar apoio para alcançar seu potencial pleno.

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